quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A BÊNÇÃO



Há tempos, num curso, alguém me falou: “Eu gostaria que você me desse uma definição a respeito do que é bênção”. No primeiro estágio da resposta disse-lhe que se ele tivesse feito essa pergunta a Esdras ou Neemias, a solução provavelmente seria curta e precisa: “bênção é a mão de Deus sobre nós” Ambos usaram essa expressão cerca de nove vezes, falando do bom, generoso e poderoso efeito da mão de Deus. Desse modo, a afirmação dos dois atinge o cerne da questão. Também poderíamos dizer: bênção significa “Deus está conosco!”.

A palavra bênção, no hebraico tem a raiz semita b-r-k que dá origem ao termo beraká, que traduz uma oferta, oportunidade ou chance. Com ela se exprimem dois elementos essenciais do pensamento bíblico: a felicidade humana e o dom divino que é sua fonte. O verbo “abençoar” traz consigo o significado de uma comunicação dos bens divinos garantidos por um mediador: o pai (para a família), o rei (para a nação), o sacerdote (para os que freqüentam o templo), o ministro (para a comunidade religiosa). Vários eventos humanos são vistos na Bíblia como bênçãos, tais como a fecundidade da esposa, a vitalidade dos filhos, a felicidade da comunidade, as boas safras e abundância das colheitas, o convívio com os amigos, etc.

Esta felicidade é vista como o resultado maravilhoso da hesêd (misericórdia) de Deus: “Tu és bendito do Senhor teu Deus” (Gn 49,19; Lc 1,42), diz o fiel. É finalmente no próprio Deus que se focaliza esse louvor: “Bendito seja o Deus Altíssimo” (Gn 14,20; Lc 1,68).

Do verbo “abençoar” vem-nos o particípio baruk, que constitui o âmago da forma israelita da bênção: “Bendito seja...”. Trata-se de uma entusiasta manifestação a respeito de alguém a quem Deus acaba de revelar seu poder e sua generosidade.

No Antigo Testamento, a bênção, em geral, se refere a algum tipo de bem-estar terreno, segurança, poder, riqueza, descendência, etc., e essa bênção está expressamente condicionada à obediência aos mandamentos de Deus: Eis que, hoje, eu ponho diante de ti a bênção e a maldição: a bênção, quando cumprirdes os mandamentos do Senhor, teu Deus, que hoje te ordeno; a maldição, se não cumprires os mandamentos do Senhor, te Deus, mas te desviares do caminho que hoje ordeno, para seguires outros deuses que não conheceste (Dt 1,26-28).

A bênção para a Igreja de Jesus, o povo de Deus, tem uma conotação transcendente: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Ef 1.3). A bênção de Deus – “Emanuel” – tornou-se homem em Jesus Cristo! Por isso também podemos descrever a idéia de bênção como sendo “a ação de Deus com uma pessoa para atraí-la mais profundamente para sua comunhão”. Isso significa que a bênção nem sempre é o que desejamos, mas sempre se trata daquilo que é bom e salutar para nós. A validade é sempre atual: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28).

Por ser um embaixador em nome de Cristo, Paulo podia dizer: “E bem sei que, ao visitar-vos, irei à plenitude da bênção de Cristo” (Rm 15,29). Anunciando todo o desígnio de Deus, o apóstolo ministrava toda a bênção de Cristo às pessoas e às comunidades. Quando crentes abençoam outras pessoas, isso significa que imploram a bênção de Deus sobre suas vidas. Quando crianças são abençoadas na igreja, ou sem casa pelos pais, em nome de Jesus, nós as colocamos sob a bênção do Senhor e as entregamos à fidelidade e à direção de Deus. Igualmente, a bênção que se dá aos enfermos implica em colocá-los sob a proteção divina. Ao abençoarmos o cálice e o pão na Eucaristia, consagramos essas dádivas naturais da videira e do trigo para uso divino.

No texto original, o significado da palavra bênção ou do verbo abençoar tem, entre outros, o significado de falar bem de alguém. Será que temos abençoado nossos irmãos e nossas irmãs dessa maneira? É uma questão.

O fato é que tudo nessa vida tem um sentido. Por essa razão, tão importante quanto receber uma bênção espiritual é compreender que ela possui um propósito superior à simples necessidade de obtê-la. Por desconsiderar esse ensino, muitas pessoas passaram toda sua vida correndo atrás de todo o tipo de bênçãos, sem, contudo, conseguirem uma satisfação daquilo que desejavam. Há os que buscam a bênção na igreja, outros nos “passes” dos ambientes espíritas ou até coisa pior. Qual, pois, é o sentido maior de uma bênção cristã?

Para obter resposta, encontramos uma pista nas palavras do apóstolo João: “Este foi o primeiro sinal de Jesus, realizado em Caná da Galiléia; ele manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele” (Jo 2,11). A partir desse texto, podemos compreender três aspectos que envolvem o sentido da bênção espiritual.

Primeiramente, em vez de olharmos ou buscarmos uma bênção apenas como um suprimento de uma necessidade, ela deve ser para nós um sinal do poder de Deus. Dito de outra maneira, a bênção espiritual deve ser considerada como um feixe de luz através do qual Deus projeta algo de valor muito superior. O milagre em Caná, como foi visto, revelou, antes de tudo, um sinal. Note-se que ele foi uma bênção para os noivos, para a alegria da festa, mas principalmente, um milagre, ou seja, uma bênção com um propósito definido. Entender isso é fundamental!

Em segundo lugar devemos sempre olhar ou buscar uma bênção de Deus com a consciência de que a mesma terá incondicionalmente de manifestar para nós e para os outros o poder e a glória de Deus. É importante que se compreenda a importância desse ensino. Muitas pessoas vão à igreja apenas para buscar milagres de Deus. Elas não querem mais nada; seu propósito é simplesmente buscar um socorro, e visa unicamente receber essa bênção. Caso a recebam, o único motivo que podem levá-las a permanecer na casa de Deus é o desejo de conseguir outra bênção. Nada mais que isso. Seus olhos, de forma egoísta, são tão somente para si.

Deus, apesar de ser considerado o doador de todos os dons, para essas pessoas, ele não passa de apenas uma saída a mais.  Os meus problemas são o mais importante. De forma que se Deus não der a bênção, simplesmente desisto dele. As coisas não funcionam deste modo. Deus não quer somente suprir nossas necessidades momentâneas. Ele tem um projeto, algo superior para nós. Perceba-se a sua maravilhosa graça. Ele nos ajuda, e juntamente com essa ajuda decide manifestar sua glória, seu poder, sua força, sua sabedoria. Todavia, Deus não faz isso sem propósito. Ele o faz, primeiro porque nos ama, e depois porque quer nos dar a plenitude de sua bênção. Por essa razão que seguimos adiante na vida.

Finalmente, chegamos ao terceiro aspecto que envolve a bênção espiritual: a fé em Jesus. Que coisa maravilhosa a fé! É por isso e para isso que Deus nos abençoa com seus milagres! Deus quer nos entregar a maior bênção que existe: Cristo, seu filho. Ele é a plenitude da bênção espiritual. Ele, sim, merece a atenção principal. Na festa em Caná, ele foi a figura principal. Ele estava lá, não somente para operar o milagre, mas, sobretudo, para revelar a glória de Deus, levando os discípulos a crerem nele. Como é bom saber disso!

Cristo é o verdadeiro sentido da bênção espiritual. Ele realizou o milagre como um sinal do poder do Pai que o enviou para que “todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). Crer em Jesus Cristo é o grande sentido para a vida dos cristãos. Ora, o que isto representa para a nossa vida? Cristo é sinônimo de “vida em abundância” (cf. Jo 10,10). E tudo o que ele faz com nossa vida é para que a gente creia que Jesus é o Cristo, o filho de Deus, e para que, crendo, tenhamos vida em seu nome (cf. Jo 20,31).

O que estamos esperando? Não percamos tempo! Deus tem muitas graças e bênçãos para nos dar! Que o Pai nos faça compreender que em Cristo recebemos a “plenitude e graça sobre graça” (cf. Jo 1,16). Aliás, nós nem temos tanto tempo assim. É bom clamar por Deus neste momento de nossas vidas. Não sabemos como será o nosso amanhã. “Busque a Deus enquanto ele está por perto; procure o Senhor enquanto ele se deixa encontrar” (Is 55,6).

Por esta razão, convide Jesus para estar perto de você. Compreenda, é você que precisa dele. Não há dúvida de que aqui e acolá faltará vinho em sua vida. Esta vida é repleta de surpresa. A qualquer momento você poderá encontrar-se em desespero. Não terá vinho e não saberá resolver a situação. Sempre necessitamos de uma benção. Você compreende o que digo? Será que não está faltando nada em sua vida? Admitir a necessidade é o primeiro passo. Depois é só buscar sua bênção, na certeza de que Cristo quer, além de suprir nossas necessidades, fazer que contemplemos a glória de Deus, manifestada nele. Para que a bênção ocorra, é preciso que se faça tudo o que ele mandar (cf. Jo 2,5) e confiar inteiramente no poder e sabedoria de Deus.

Historicamente, vemos que desde o Israel antigo, a bênção era considerada como manifestação do poder de Deus (cf. Gn 13,2). Igualmente era transmitida do pai moribundo ao filho, um poder concreto e subsistente, em geral através da imposição das mãos (cf. 8,14.17), pela palavra, ou através de um presente (cf. 33,11). Materialmente, a bênção se estendia a todas as propriedades do abençoado (cf. Dt 28,3-6).

No Novo Testamento, mantém-se o foco das antigas bênçãos. Jesus abençoa as crianças (cf. Mc 10,16), seus discípulos (cf. Lc 24,50), os pães (cf. Mc 6,41), etc. Igualmente Jesus ensinou aos discípulos a responder com uma bênção às maldições de seus inimigos (cf. Lc 6,28). Ele descreveu a eterna felicidade dos justos como a bênção definitiva dada pelo Pai, ao contrário das maldições que cairão sobre os que rejeitarem a salvação (cf. Mt 25, 34-41).

No seio da família observa-se como é preciosa bênção dos pais. Eles são os primeiros mensageiros de Deus na vida dos filhos. Quando eu era criança, recordo, que se pedia, antes de dormir ou em qualquer outra circunstância do dia, a bênção aos nossos pais, avós e padrinhos, beijando, não-raro, suas mãos. Sem a bênção, parecia-nos que faltava algo à nossa segurança ou ao sucesso de nossos planos diários. Hoje, passados os anos, tenho profunda consciência da importância da bênção dos pais na vida dos filhos. É a Sagrada Escritura que nos alerta sobre a necessidade dessa bênção.

Toda a Escritura está repleta de passagens indicando a importância que Deus dá aos pais na vida dos filhos. Os pais são os cooperadores de Deus na criação dos filhos e, dessa forma, são também um canal aberto para que a bênção divina chegue às crianças, jovens e adolescentes. O livro do Deuteronômio registra o quarto mandamento: “Honra teu pai e tua mãe, como te mandou o Senhor, para que se prolonguem teus dias e prosperes na terra que te deu o Senhor teu Deus” (Dt 5,16). Dessa forma, Deus promete vida longa e prosperidade àqueles que honram os pais. São Paulo disse que esse é “o primeiro mandamento acompanhado de uma promessa de Deus” (Ef 6,2).

Os livros dos Provérbios e do Eclesiástico estão cheios de versículos que trazem a marca da presença dos pais. Eis um deles: “A bênção paterna fortalece a casa de seus filhos, a maldição de uma mãe a arrasa até os alicerces” (Eclo 3,11). Esse versículo mostra que a bênção dos pais não é simplesmente uma tradição do passado ou mera formalidade social. Muito mais do que isso, a Sagrada Escritura nos assegura que a bênção dos pais é algo eficaz e real, isto é, um meio que Deus escolheu para agraciar os filhos. O Senhor quis outorgar aos pais o direito e o poder de fazer a sua bênção chegar aos filhos. É a forma que Deus usou para deixar clara a importância dos genitores. Acho que seria interessante perguntar: hoje, costumamos abençoar nossos filhos?

Vários trechos da Bíblia mostram claramente a grande importância que Deus dá aos pais na vida dos filhos e, de modo especial, à bênção paterna e materna. Esta bênção traz em si, como uma delegação que Deus outorga aos pais, em favor de seus filhos. Infelizmente, hoje em dia, talvez como fruto do materialismo ou pragmatismo de nosso tempo, muitos pais já não lembram disto, ou não sentem a prerrogativa de que Deus lhes deu para educar na fé, formar e abençoar os filhos. Muitos já não acreditam no poder da bênção paterna e nem mesmo ensinam os filhos a pedi-la.

Foi com copiosas bênçãos que Deus coroou todos os atos da sua criação, ao dizer que tudo estava muito bom. Primeiro ele abençoou o homem e o seu trabalho. Depois abençoou o sétimo dia. O homem foi abençoado para poder empreender tudo o que o Criador projetou que ele fizesse. O sétimo dia foi abençoado e santificado para ser ocasião de descanso e reflexão. Abençoando-o, Deus relacionou-se intimamente com o homem, com o trabalho e com o sábado (judaico) e o domingo (cristão), realidades que ele próprio idealizou.

As Sagradas Escrituras estão repletas de situações de bênçãos, onde a benção proferida por Deus e aquela levada a efeito pelo homem se entrelaçam: Gn 27,27ss; Gn 49,25s.

Os batizados são chamados a abençoar e a ser uma bênção, que está intimamente ligada ao sacerdócio batismal. Todo batizado é chamado a participar do processo de “bênção”, eis por que os leigos podem presidir certas bênçãos.

Na liturgia da Igreja, a bênção divina é plenamente revelada e comunicada: o Pai é reconhecido e adorado como a fonte e o fim de todas as bênçãos da criação e da salvação; em seu Verbo, encarnado, morto e ressuscitado por nós, o Pai nos cumula com suas bênçãos, e por meio dele derrama em nossos corações o dom que contém todos os dons: o Espírito Santo.

A bênção da Igreja é continuadora da bênção de Deus. Na liturgia da noite pascal, quando ocorre a bênção da água batismal, a Igreja faz solenemente memória dos grandes acontecimentos da história da salvação que já prefiguravam o mistério do Batismo: “Ó Deus, pelos sinais visíveis dos sacramentos realizais maravilhas invisíveis. Ao longo da história da salvação, vós vos servistes da água para fazer-nos conhecer a graça do Batismo”.

A bênção solene conclui a celebração do batismo. Por ocasião desse sacramento, a bênção da mãe e do pai ocupa um lugar especial. As diversas liturgias são ricas em orações de bênçãos e de epicleses para pedir a Deus a graça e a bênção.

Entre os chamados “sacramentais”, figuram em primeiro lugar as bênçãos (de pessoas, da mesa, de objetos e lugares). Toda bênção é um ato de louvor a Deus e pedido para obter seus dons. Em Cristo, os cristãos são abençoados por Deus, o Pai “de toda a sorte de bênçãos espirituais” (Ef 1,3). E por isso que a Igreja dá a bênção invocando o nome de Jesus e fazendo habitualmente o sinal sagrado da cruz de Cristo (Catecismo1671).

No conhecido “hino cristológico” contido na carta de São Paulo aos efésios, já referido aqui, observa-se a existência de uma vigorosa atitude em que o fiel bendiz (abençoa) a Deus, por causa de sua benevolência:

Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda sorte de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo. Nele escolheu-nos antes da fundação do mundo para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo, conforme o beneplácito de sua vontade, para louvor e glória de sua graça, com a qual ele nos agraciou no Bem-amado (Ef 1,3-6).

Abençoar é uma ação divina que dá a vida e da qual o Pai é a fonte. Sua bênção é, ao mesmo tempo, palavra e dom. No latim é benedictio, e no grego é euloguia. Aplicado à vida do ser humano, esse termo significa a adoração e a entrega a seu criador, na ação de graças. Bendizer é prestar um elogio.

Desde o início até a consumação dos tempos, toda a obra de Deus é bênção. A partir do poema litúrgico da primeira criação (Gn) até os cânticos da Jerusalém celeste (Ap) os autores inspirados anunciam o projeto de salvação como uma imensa bênção divina.

Nos primórdios, Deus abençoa os seres vivos, especialmente o homem e a mulher. Na aliança com Noé e com todos os seres animados ele renova esta bênção de fecundidade. Mas é a partir de Abraão o que a bênção divina penetra a história dos homens, que caminhava para a morte, para fazê-la retomar à vida, à sua fonte: pela fé do “pai dos crentes” que acolhe a bênção, inaugura-se a história da salvação (Catecismo 1080).

As bênçãos divinas se manifestam em eventos impressionantes e salvíficos, como o nascimento de Isaac, a saída do Egito (Páscoa e Êxodo), o dom da Terra Prometida, a unção de Davi, a presença de Deus no templo, o exílio purificador e o retomo daquele “pequeno resto” anunciado pela profecia de antes do exílio. A lei, os profetas e os salmos, esse magnífico conjunto de escritos que organiza, a espiritualidade e tecem a liturgia do povo eleito, lembram essas bênçãos divinas e ao mesmo tempo lhes respondem mediante as bênçãos de louvor e de ação de graças.

Na liturgia da Igreja, a bênção divina é plenamente revelada e comunicada: o Pai é reconhecido e adorado como peghé (fonte) e o fim de todas as bênçãos da criação e da salvação. Em seu Verbo, encarnado, morto e ressuscitado por nós, o Pai nos cumula com suas bênçãos, e por meio do Filho derrama em nossos corações o dom que contém todos os dons: o Espírito Santo. Nessa liturgia, Deus Pai é bendito e adorado como a fonte de todas as bênçãos da criação e da salvação, com as quais nos abençoou em seu Filho, para dar-nos o Espírito da adoção filial.

Na antiga aliança, o pão e o vinho foram oferecidos em sacrifício entre as primícias da terra, em sinal de reconhecimento ao Criador. Mas eles recebem também um novo significado no contexto do êxodo: os pães ázimos que Israel come cada ano na Páscoa comemoram a pressa da partida libertadora do Egito; a recordação do maná do deserto há de lembrar sempre a Israel (e a nós por continuação) que ele vive do pão da Palavra de Deus. Finalmente, o pão de todos os dias é o fruto da Terra Prometida, penhor da fidelidade de Deus às suas promessas. O “cálice de bênção” (cf. 1Cor 10,16), no fim da refeição pascal dos judeus, acrescenta à alegria festiva do vinho a dimensão escatológica da espera messiânica do restabelecimento de Jerusalém. Jesus instituiu sua Eucaristia dando um sentido novo e definitivo à bênção do pão e do vinho.

O milagre da multiplicação dos pães, quando o Senhor proferiu a bênção, partiu e distribuiu os pães a seus discípulos para alimentar a multidão, prefigura a superabundância deste único pão de sua Eucaristia. O sinal da água transformada em vinho em Caná já anuncia a hora da glorificação de Jesus, e antecipa a realização da ceia na casa do Pai, onde os fiéis beberão o vinho novo, prefigurado pelo de Cristo.

Na epiclese (oração de “vinde”, em geral impetrada ao Espírito Santo) eucarística, a Igreja pede ao Pai que envie seu Espírito Santo (ou o poder de sua bênção) sobre o pão e o vinho, para que se tornem o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, e para que aqueles que tomam parte na Eucaristia sejam um só corpo e um só espírito. Certas tradições litúrgicas colocam a epiclese depois da anamnese (memória). No relato da instituição da Eucaristia, a força das palavras e da ação de Cristo, e o poder do Espírito Santo tornam sacramentalmente presentes, sob as espécies do pão e do vinho, o Corpo e o Sangue de Cristo, seu sacrifício oferecido na cruz uma vez por todas. Está ali uma das maiores bênçãos que ocorre na Igreja.

Duas formas fundamentais exprimem esse movimento da bênção: ora ela sobe, levada no Espírito Santo por Cristo ao Pai (nós o bendizemos por nos ter abençoado); ora ela implora a graça do Espírito Santo, que, por Cristo, desce de junto do Pai (é Ele que nos abençoa).

Nos sofrimentos da vida vemos que a morte é transformada por Cristo. Os evangelhos nos revelam que Jesus, o Filho de Deus sofreu também a morte, própria da condição humana. Todavia, apesar de seu pavor diante dela, assumiu-a em um ato de submissão total e livre à vontade de seu Pai. A obediência de Jesus transformou a maldição da morte em uma bênção.

Também na Bíblia vemos o entrelaçamento da bênção e da oração.Os salmos, por exemplo, são marcados por características constantes: a simplicidade e a espontaneidade da oração, o desejo do próprio Deus através de tudo o que é bom em sua criação, a situação desconfortável do crente que, em seu amor preferencial ao Senhor, está exposto a uma multidão de inimigos e tentações e, na expectativa do que fará o Deus fiel, a certeza de seu amor e a entrega à sua vontade. A oração dos Salmos é sempre motivada pelo louvor. Feita para o culto da Assembléia, ela anuncia o convite à oração e canta-lhe a resposta: “Aleluia”, Louvai o Senhor!

Haverá algo melhor, em termos de oração e louvor do que um Salmo? É por isso que Davi diz muito acertadamente: “Louvem o Senhor, pois o Salmo é uma coisa boa. Ao nosso Deus, um louvor suave e belo!” O Salmo é bênção pronunciada pelo povo, louvor de fé pela assembléia, aplauso de todos, palavra dita pelo universo, voz da Igreja e melodiosa profissão de fé.

Na “encarnação”, o Pai abençoa Maria de modo singular. A graça e a alegria apontam para uma bênção. A “Ave, Maria (alegra-te, Maria)” é a saudação do anjo Gabriel que abre a oração universalmente conhecida. É o próprio Deus que, por intermédio de seu anjo, saúda Maria. Nossa oração ousa retomar a saudação de Maria com o olhar que Deus lançou sobre sua humilde serva, alegrando-nos com a mesma alegria que Deus encontra nela. O “Cheia de graça, o Senhor está contigo” soa como uma autêntica bênção. As duas palavras de saudação do anjo se esclarecem mutuamente. Maria é cheia de graça porque o Senhor está com ela.

A graça com que ela é cumulada é a presença daquele que é a fonte de toda graça. “Alegra-te, filha de Jerusalém... o Senhor está no meio de ti” (Sf 3,14.17a). Maria, em quem vem habitar o próprio Senhor, é em pessoa a filha de Sião, a Arca da Aliança, o lugar onde reside a glória do Senhor: ela torna-se, por sua fé e disponibilidade, “a morada de Deus entre os homens” (Ap 21,3). Porque Deus a abençoou é que seu coração pode bendizer por sua vez aquele que é a fonte de todo o seu júbilo.

Afinal de contas, e esta questão também é uma constante no meio das comunidades: o que é essencial para ser abençoado por Deus? A bênção pressupõe alguns requisitos que vamos relacionar aqui. É o conjunto de três atitudes que quando combinadas culminam no melhor do Pai para a nossa existência.

1) Conhecimento

A fé sem entendimento é algo vazio. Muita gente boa entra em verdadeiras armadilhas de pessoas sem escrúpulos porque não sabe como é o mundo de Deus: simples e descomplicado. Você não precisa ser um “doutor” para ser abençoado por Deus; basta desejar a benção e ter um coração puro;

2) Fazer a oração da fé

Fé é a certeza de que aquilo que você espera se realizará, logicamente dentro do projeto de Deus. Sem fé é impossível agradar a Deus. Fé é o contrário do ver para crer. “E, tudo o que vocês pedirem, com fé, na oração, vocês receberão” (Mt 21,22).

3) Confessar a sua bênção

Cuidado com o ocorre após sua oração! Não é raro a pessoa perder a bênção que estava em suas mãos por causa do que ela fala por aí. Orou com fé, então não destrua o seu pleito falando (ou fazendo) coisas ao contrário do que você espera. Não queime a sua oração com uma boca negativa. Ao contrário, “Quem fala a verdade manifesta a justiça” (Pv 12,17).

Ainda no terreno das questões, a pergunta que muitos fazem é “quem pode abençoar?” Na verdade, a todo batizado é facultada a capacidade de invocar bênçãos. O sacramento do batismo é mais importante que qualquer outra investidura, e todo aquele que invocar a bênção de Deus, ela acontecerá. Em alguns ambientes diocesanos, talvez mais por uma questão cultural ou de tradição, não é bem vista a bênção ministrada por leigos. Os padres não gostam e o público não aceita totalmente.

Já nos ambientes franciscanos e capuchinhos a coisa muda de figura. Lá os leigos são chamados, junto com os freis a serem “ministros da bênção”, impondo as mãos e abençoando pessoas, casas, objetos e animais. A bênção não traz em si o poder do ministro, seja ele quem for, pois é realizada em nome do Deus Trinitário. Com alegria e santo orgulho participei, por vários anos, junto com Carmen, minha mulher, do quadro de “ministros da bênção” da igreja Santo Antônio, no bairro do Partenon, em Porto Alegre. Lá, ás terças-feiras (dia de Santo Antônio) e aos fins de semana, milhares de pessoas vinham buscar graças, especialmente a “benção da saúde”. Quando Deus abençoa alguém, esta bênção é para ser compartilhada. Deus, pela bênção, sempre cumpre o desejo do coração do justo.

Haurida dentro da riqueza do Antigo Testamento, a conhecida “Benção de Aarão”, que aparece no livro dos Números (6, 24-26), e hoje consagrada como a “benção franciscana” é sempre atual e empregada em todos os ambientes cristãos: Deus te abençoe e te guarde! Ele te mostre a sua face e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu olhar e te dê a sua paz! Amém.

É esta a Bênção proferida por Aarão quando de sua consagração (Lv 9,22) que aqui se insere: Disse mais Javé a Moisés: Fala a Aarão, e a seus filhos, dizendo: Assim abençoareis os filhos de Israel; dir-lhes-eis: “Javé te abençoe e te guarde. Javé faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te seja benigno. Javé mostre o seu rosto para ti e te dê a paz”. Assim porão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei (Nm 6,22-27).

Nesta bênção, três vezes se repete o nome de Javé, numa evocação gloriosa de sua majestade e poder, que vai jorrar sobre o Povo de Israel em forma de misericórdia. Proporcionará ao povo a fecundidade e a abundância de todos os bens então aspirados, de fartas colheitas, numeroso rebanho e manada, além de feliz e numerosa posteridade. Os próprios pais também tinham este poder de abençoar em nome de Javé como já se viu quando Isaac abençoou Jacó (Gn 27,27-29), assim como Jacó abençoou José (Gn 49,25-26). As bênçãos em nome de Javé continham em germe, potencialmente, todo o teor da fecundidade que por ela se outorgava.

Deste modo, a fórmula franciscana (ou “benção de Aarão”) é usada em todo tipo de bênção que se utiliza hoje em dia, seja por ministros leigos ou consagrados. Retomada na liturgia pós-conciliar, a bênção franciscana foi colocada no novo missal como primeira entre as possíveis bênçãos solenes do ano. Além disso, a leitura de Nm 6,22-26 está nos três ciclos litúrgicos como primeira leitura na festa de 1º de janeiro. Hoje é um bem “recuperado” pela Igreja Católica. A revalorização desta bênção foi muito apreciada por todos os que pertencem à família franciscana.

Redescobrindo-a e voltando a utilizá-la estaremos fazendo o que fez Francisco ao recuperar uma fórmula litúrgica quase esquecida, considerando-a apta para consolar pessoas em aflição. Usando-a, Francisco descobriu o profundo significado da fórmula e, no modo de usá-la, mostrou que captou precisamente seu sentido original.

A invocação pessoal mostra uma preocupação quase materna de Francisco por seus amigos. Ela foi usada pela primeira vez quando Francisco abençoou frei Leão que era um sacerdote que passava por grandes dificuldades. Francisco é apenas um não-sacerdote que abençoa o sacerdote. Ao proferir a benção, ele se põe – e talvez de forma muito consciente – na linha dos que, como no Antigo Testamento, mediavam a bênção de Javé e na liturgia da Igreja invocavam, em situações especiais, a bênção de Deus sobre uma pessoa ou sobre o povo. Fazendo isso, o Santo põe em prática uma habilitação dada pelo batismo.

Para finalizar, é bom interiorizarmos que a bênção é uma graça que atinge a vida e seu mistério, e é um dom que envolve gestos e palavras. Enquanto a prece da bênção afirma a generosidade divina, a ação de graças, que se move pela fé, já a viu manifestar-se.

Que Deus te abençoe e te guarde!
Ele te mostre a sua face e se compadeça de ti!
O Senhor volte para ti o seu olhar e te dê a sua paz!
 
 

Antonio Mesquita Galvão

Doutor em Teologia Moral

VOCÊ É SUPERSTICIOSO?



A história da humanidade está repleta de relatos relacionados à superstição. Medo de gato preto, não passar debaixo de escadas, botar a imagem de Santo Antônio de ponta-cabeça no copo de água, dentre tantas outras, são histórias que permeiam a vida de todos nós.
As superstições são tão antigas quanto a humanidade. Estão presentes na história e associadas a rituais pagãos em que as pessoas louvavam a natureza.
Quem nunca ouviu falar de uma delas, não é mesmo? Há séculos convivemos com esses costumes, muitas vezes, sem saber como nasceram.

Algumas dessas práticas são tão presentes em nosso cotidiano que as multiplicamos automaticamente em nossas vidas.
Há relatos de que a roupa branca utilizada por muitos, no Réveillon, é influência de tribos africanas que vieram para o Brasil no período da escravidão, cor que traduziria paz e purificação. Bater na madeira é um hábito milenar dos pagãos. Por acreditarem que as árvores seriam morada dos deuses, batiam na madeira como forma de espantar os maus espíritos que rondavam, chamando o poder das divindades.

O termo "superstição" vem do latim "superstitio" e se origina no que acreditamos a partir do conhecimento popular. Trata-se de uma crendice sem base na razão ou conhecimento ou ainda algo muito relacionado ao comportamento supersticioso e mágico, ligado à maior ou menor "sorte" em determinada situação.
Desde a antiguidade, os povos eram cheios de crenças ligadas a aspectos mágicos, identificando situações que dariam ou não sorte àqueles que seguissem determinadas práticas.

Muitas superstições nascem de hábitos do passado que fazem sentido, mas cuja razão se perdeu ao longo do tempo, multiplicando uma situação inexistente, que, muitas vezes, vem de modo fácil e tranquilo. Usar a roupa da sorte, a bebida especial, a planta de tal tipo. A superstição responde à nossa necessidade de segurança, conforme afirmação de Kloetzel. "Não é simples coincidência que, justamente o campo da saúde e da doença, em que nosso desamparo se torna mais evidente, esteja mais minado por toda sorte de crendices" [...]. "Sabe-se também que é entre os idosos, às voltas com a ideia de morte, que o misticismo e a religião encontram maior número de devotos", revela o autor.

Estamos em pleno seculo XXI, mas ainda há muitos fatos assim, sem uma base exata; e a verdade é que até aqueles que são mais descrentes, céticos, muitas vezes vão atrás da "boa sorte". A verdade é que por mais que digam que a religião possa carregar características supersticiosas, é um grande erro confundir as coisas, pois religião não é magia.
Ato supersticioso é o fato de alguém carregar um talismã, evitar situações, praticar atos de sorte ou coisas do gênero. Religião é algo que permanece com o tempo e necessário é crer de forma intensa; já a superstição é algo em que não se acredita 100%, mas se faz esta ou aquela simpatia, carrega-se um objeto da sorte.

O que chamamos de comportamento supersticioso nem sempre é comprovado e, muitas vezes, é lendário, ou seja, de tanto se acreditar que algo dá azar ou sorte, a tradição deu àquele número, objeto ou situação um caráter de favorecimento e crença.

E você? Já parou para pensar naquilo que cultiva e acredita? Será que tem dado mais valor às superstições do que à sua vida de cristão? Fica uma reflexão para revermos como cada um de nós assume medos, crenças e crendices que tantas vezes mobilizam nossas vidas. 
 Abraço fraterno!
 
 

Elaine Ribeiro


O SERVIÇO HUMILDE

Entre as maravilhosas diretrizes de Cristo, todas elas alicerçadas nos seus exemplos nunca se fixa demais esta sentença fulgurante: “Uma vez feito tudo o que se vos ordenou, dizei: “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer”. 
Em qualquer circunstância da vida o ser racional está sempre a serviço do próximo nas múltiplas ocupações de cada hora e, se tais ações são feitas na ótica proposta por Jesus, os merecimentos são enormes para o tesouro celestial: "Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes" (Mt 25,40).

O Mestre divino se fez um espelho para seus seguidores os quais se modelam sobre Sua sublime atitude: “E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro, se faça vosso servo. Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por uma multidão" (Mt 20,27-28). O Verbo Encarnado se tornou servo numa situação humana bem definida.
Acentuou sua lição de uma maneira magnífica num gesto radical na última Ceia, quando se pôs a lavar os pés de seus discípulos e acrescentou: “Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós” (Jo 13,15).

Na verdade, a medida do serviço é o serviço sem medida. São Paulo entendeu isto perfeitamente e pode afirmar que se fizera tudo para todos para salvar a todos (1 Cor 9,22). Aconselhou então:"Tudo o que fazeis, fazei-o na caridade". (1Cor 16,14).
Trata-se de viver não para si, mas para os outros. 


Cada um se realiza em plenitude na relação oblativa, nos gestos de doação. O verdadeiro cristão sabe auscultar as necessidade alheias e emprega toda eficiência nas tarefas de cada instante. É nas fábricas, nos escritórios, nos campos, nas escolas que o significado do amor a Deus e ao próximo devem se manifestar em todo seu esplendor.

Não se trata de amar os outros de uma maneira abstrata, longínqua, mas através daquele vizinho, daquele companheiro de trabalho imediato que está ao nosso lado a cada instante, seja qual for sua origem, aspecto ou opiniões. Quantos infernizam a vida alheia por serem impertinentes com os outros, irritando-os, apoucando-os, Nem se pode esquecer que o próximo mais próximo é o que habita sob o mesmo teto.
Ser cristão num serviço humilde é perceber que outros existem, é sair de si para ser atencioso com eles, é ser calmo nas relações de cada hora. Cumpre servir os outros até o esquecimento de si próprio. 

Este serviço se amplia no anúncio do Evangelho que salva, anima e vivifica os corações doridos. É mister oferecer ao mundo a imagem de uma Igreja ministerial, “na qual o maior tesouro é a pessoa humana, como lembrou o Pe. Paulo Dionê Quintão ao anunciar o projeto “Bom Pastor” na Paróquia de Santa Rita de Cássia em Viçosa (MG).
Uma vida à disposição do próximo é um ideal sublime que deve direcionar a existência de todo batizado. O céu fúlgido da Igreja está constelado de figuras esplêndidas que alcançaram o cume da perfeição, sublimando o serviço cotidiano e multiplicando a imolação sobretudo para os mais necessitados, marginalizados da sociedade, em situação de risco.

Cumpre sempre cultivar a mística do ofício caritativo, pedindo ao Divino Espírito Santo o carisma da dedicação aos outros. É ter consciência de que é preciso edificar uma Igreja voltada para a comunhão com Deus e com os irmãos. É o que se denomina também “a liturgia do próximo”, ou seja a visualização da presença divina no outro. O serviço humilde lembrado por Cristo é uma imitação do próprio Deus que tudo criou em benefício de suas criaturas. Mas o Ser Supremo multiplica seus dons para quem se doa aos outros.

Se o serviço diário é realizado com toda competência, eficiência e amor se torna então fator de salvação para si e para os outros. Para quem não vê o próximo muito perto de si, o Criador ficará sempre mais longe. Cumpre se impregnar da palavra de Jesus: “Somos servos inúteis”, porque não fazemos mais do que a obrigação, estando a serviço dos outros. Na verdade, em cada ação é o Senhor que age, pois diz o Apóstolo: “Somos os cooperadores de Deus” (1 Cor 3,9). Isto não resulta de uma deficiência do poder divino, mas é o Ser Supremo que quer se servir das causas intermediárias para comunicar uns aos outros os seus benefícios.

Cada um deve ser servidor por bondade e por amor. É belo estar consciente de que se é o canal da misericórdia do Criador. Quem exerce uma chefia qualquer deve se considerar um servidor especial dos subordinados. Não se trata de uma honra, mas de um ônus para o bem de todos.
 
 

Côn. José Geraldo Vidigal

GRAÇAS ÀS SUAS CHAGAS FOMOS CURADOS


O EVANGELHO de Lucas 5,27-32, conta-nos a vocação de Mateus: a chamada que o Senhor lhe dirigiu e a rápida resposta que o cobrador de tributos lhe deu. Ele, deixando tudo, levantou-se e o seguiu.

O novo Apóstolo quis mostrar o seu agradecimento a Jesus com um banquete que São Lucas qualifica de grande. Estavam sentados à mesa um grande número de cobradores e outros. Ali estavam todos os seus amigos.

Os fariseus escandalizaram-se. Perguntavam aos discípulos: “Por que comeis e bebeis com os publicanos e pecadores?” Os publicanos eram considerados pecadores por causa dos benefícios exorbitantes que podiam obter na sua profissão e das relações que mantinham com os gentios.

Jesus respondeu aos fariseus com estas palavras consoladoras: “Não são os que gozam de boa saúde que necessitam de médico, mas os enfermos. Não vim chamar à conversão os justos, mas os pecadores” (Lucas 5,31-32).

Jesus vem oferecer o seu reino a todos os homens; a sua missão é universal. O diálogo de salvação não ficou condicionado aos méritos daqueles a quem se dirigia; abriu-se a todo os homens, sem discriminação alguma... Jesus vem para todos, pois todos estamos doentes e somos pecadores: “Ninguém é bom a não ser Deus”. Todos nós devemos recorrer á misericórdia e ao perdão de Deus para ter a vida e alcançar a salvação. A humanidade não está dividida em dois blocos: os que já estão justificados pelas suas forças e os pecadores. Todos necessitamos diariamente do Senhor. Os que pensam não ter necessidade de Deus não conseguem a saúde, continuam mergulhados na sua morte ou na sua doença.

As palavras do Senhor, que se apresenta como Médico, animam-nos a pedir humilde e confiadamente perdão dos nossos pecados e também dos pecados das pessoas que parecem querer continuar vivendo afastadas de Deus. Hoje exclamamos com Santa Teresa: “Oh que coisa difícil vos peço, meu Deus verdadeiro: que queirais a quem não vos quer, que abrais a porta a quem não vos chama, que deis saúde a quem gosta de estar doente e anda procurando a doença! Vós dizeis, meu Senhor, que vindes chamar os pecadores: são estes, Senhor, os pecadores verdadeiros. Não olheis a nossa cegueira, meu Deus, mas o muito sangue que o vosso Filho derramou por nós. Resplandeça a vossa misericórdia no meio de tão grande maldade; considerai, Senhor, que somos obra das vossas mãos” (Exclamações 8). Se recorrermos assim a Jesus, com humildade, Ele sempre terá misericórdia de nós e daqueles que procuramos aproximar d’Ele.

NO ANTIGO TESTAMENTO, o Messias é descrito como o pastor que virá cuidar com solicitude das suas ovelhas e curar as que estão feridos ou doentes. O Senhor veio buscar o que estava perdido, chamar os pecadores, dar a sua vida em resgate por muitos (Luc 19,10). Como tinha sido profetizado, foi Ele quem suportou os nossos sofrimentos e carregou as nossas dores, e graças, às suas chagas fomos curado (Is. 53,4).

Cristo é o remédio para os nossos males: todos andamos doentes e por isso temos necessidade de Cristo. Ele “é Médico, e cura o nosso egoísmo se deixarmos que a sua graça penetre até o fundo da alma”. Devemos procurá-lo como o doente procura o médico, dizendo-lhe a verdade sobre o que sentimos, com o desejo de nos curarmos. “Jesus advertiu-nos de que a pior doença é a hipocrisia, o orgulho que leva a dissimular os pecados próprios. Com o Médico, é imprescindível que tenhamos uma sinceridade absoluta, que lhe expliquemos toda a verdade e digamos: “Senhor, se quiseres — e Tu queres sempre —, podes curar-me”. Tu conheces a minha debilidade; sinto estes sintomas e experimento estas outras fraquezas. E descobrimos com simplicidade as chagas; e o pus, se houver pus. Senhor, Tu que curaste tantas almas, faz com que, ao ter-te no meu peito ou ao contemplar-te no Sacrário, te reconheça como Médico divino.

Umas vezes, o Senhor atua diretamente na nossa alma: Quero..., fica limpo..., segue adiante..., sê mais humilde..., não te preocupes... Noutras ocasiões, e sempre que haja um pecado grave, o Senhor diz: “Ide e mostrai-vos ao sacerdote” (Luc17,14) ide ao sacramento da Penitência, onde a alma encontra sempre o remédio oportuno (Cânticos 1,8).

“Refletindo sobre a função deste Sacramento — diz o Papa João Paulo II —, a consciência da Igreja descobre nele, além do caráter judicial [...], um caráter terapêutico ou medicinal. E isto relaciona-se com a comprovação de que, no Evangelho, Cristo se apresenta freqüentemente como médico, enquanto a sua obra redentora é muitas vezes chamada, desde a Antigüidade cristã, “remédio da salvação”. “Eu quero curar, não acusar” — dizia Santo Agostinho, referindo-se ao exercício da pastoral penitencial —, e é graça ao remédio da Confissão que a experiência do pecado não degenera em desespero”. Desemboca numa grande paz, numa imensa alegria.

Contamos sempre com o alento e a ajuda do Senhor para voltar e recomeçar. é Ele quem dirige a luta, e “um chefe no campo de batalha estima mais o soldado que, depois de ter fugido, volta e ataca o inimigo com ardor do que aquele que nunca desertou, mas que também nunca empreendeu uma ação valorosa”.  Santifica-se não somente aquele que nunca cai, mas também aquele que sempre se levanta. O mal não está em ter defeitos — porque não há quem não os tenha —, mas em pactuar com eles, em não lutar. E Cristo nos cura como Médico e depois nos ajuda a lutar. Se alguma vez nos sentirmos especialmente desanimados por força de alguma doença espiritual que nos pareça incurável, não nos esqueçamos destas consoladoras palavras de Cristo: “Não são os que gozam de boa saúde que necessitam de médico, mas os enfermos”. Tudo tem remédio. O Senhor está sempre muito perto de nós, mas especialmente nesses momentos, por maior que tenha sido a falta, por muitas que sejam as misérias. Basta sermos sinceros de verdade.

“Todas as tuas doenças serão curadas — diz Santo Agostinho —. “Mas são muitas”, dirás. Mais poderoso é o Médico. Para o Todo-Poderoso, não há doença incurável; limita-te a deixar-te curar, coloca-te nas suas mãos”.  Devemos aproximar-nos do Senhor como aquelas pessoas simples que o rodeavam, como os cegos, os coxos e os paralíticos que o procuravam porque desejavam ardentemente a sua cura. Só aquele que sabe e se sente manchado experimenta a necessidade profunda de ficar limpo; só quem é consciente das suas feridas e das suas chagas experimenta a urgência de ser curado. Devemos sentir a profunda preocupação de curar todos os pontos que o nosso exame de consciência nos mostre que devem ser curados.

No dia em que foi chamado, Mateus deixou a sua antiga vida para recomeçar outra nova ao lado de Cristo. Hoje, podemos fazer nossa esta oração de Santo Ambrósio: “Como ele, eu também quero deixar a minha antiga vida e não seguir outro que não sejas Tu, Senhor, Tu que curas as minhas feridas. Quem poderá separar-me do amor de Deus que se manifesta em Ti?... Estou atado à fé, pregado nela; estou atado pelos santos vínculos do amor. Todos os teus mandamentos serão como um cautério que terei sempre aplicado ao meu corpo...; o remédio arde, mas afasta a infecção da chaga. Corta, pois, Senhor Jesus, a podridão dos meus pecados. Enquanto me tens unido a ti com os vínculos do amor, corta tudo o que está infectado. Apressa-te a lancetar as minhas paixões escondidas, secretas e múltiplas; abre a ferida, para que a doença não se propague por todo o corpo... Achei um médico que mora no Céu, mas que distribui os seus remédios na terra. Só Ele pode curar as minhas feridas, porque não as padece; só ele pode tirar do coração a pena  e da alma o temor, porque conhece as coisas mais íntimas.”.

Não nos esqueçamos disto quando nos sentirmos esmagados pelo peso de nossas fraquezas. Mas também não o esqueçamos se alguma vez, no nosso apostolado pessoal, nos parecer que alguém tem uma doença da alma sem aparente solução. Existe solução; sempre existe. Pois Ele quem suportou os nossos sofrimentos e carregou as nossas dores, e graças às suas chagas fomos curados.

Pe. Emílio Carlos Mancin

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Por Suas chagas fomos curados

Em cada tempo especial, Deus derrama bençãos especiais sobre nós!
O tempo da Páscoa contêm promessas maravilhosas que podem e devem se cumprir em nossas vidas.
Veja, na Sagrada Escritura, o que Isaías profetizou no capítulo 53,5: “Por Suas chagas fomos curados...”. Isso quer dizer que as chagas de Jesus não foram em vão! Elas têm o poder de nos trazer cura e libertação. Se isso não acontecer, perde-se o sentido da Paixão de Cristo.
Podemos tomar posse dessa profecia, assim como Jesus o fez a 2 mil anos atrás!
Podemos até mesmo, com todo respeito reivindicar junto de Deus o cumprimento dessa promessa e, nesse Tempo Pascal, perceber as curas que o Senhor está operando em nossas vidas.

Oração:
Senhor Jesus, sei que seu sofrimento foi infinitamente maior que o meu, porém te peço que a virtude de suas chagas traga cura para a minha vida e alívio para as minhas dores.
Eu tomo posse da benção da Páscoa. Obrigado, Jesus.
MAGÁ

Sonhos

As vezes construimos grandes sonhosem cima de grandes pessoas...
O tempo passa ... e descobrimos que grande mesmo eram os sonhos e as pessoas pequenas demais para torna-las reais...